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domingo, 27 de janeiro de 2013

Bares Cervejeiros em Amsterdam

Depois de looongo período sem atualizar, vou postar uma publicação sobre a minha experiência com bares especializados em cerveja em Amsterdam, pois só encontrei uma vaga referência em alguns blogs e sites americanos e, como eu sempre gosto de buscar sites (de preferência blogs) de referência antes de viajar a algum lugar para saber o que há de bom lá, deixo aqui minha humilde contribuição para os apreciadores desse líquido maravilhoso que se enveredarem pela bacaníssima Amsterdam.

Tenho que começar falando do espetacular Proeflokaal Arendsnest, o que significa algo como o Ninho da Águia em Holandês, ou flamengo, sei lá, não consegui achar tradução para esse nome em lugar nenhum, só da informação da simpática bartender que nos atendeu no local. Esse bar só serve cervejas holandesas, tendo mais de 30 opções on tap, e não é de mentira como muitos estabelecimentos anunciam, realmente devia ter pelo menos umas 20 opções escritas nos 2 quadros negros na parede do bem decorado e arrumado bar. A ideia era almoçar no local, mas descobrimos às 13 horas que o bar só abria às 16 horas, comemos alguma coisa ali perto e ficamos dando voltas pelos canais até as 16 em ponto, quando entramos no local (e não éramos os únicos esperando na porta). Bebemos rótulos deliciosos de artesanais holandesas como a De Molen e SNAB, além de mais tradicionais como Hertog Jan e La Trappe, tudo on tap. Nem preciso dizer que o serviço era de primeira, apesar da indiferença e pouca hospitalidade comum a todo garçom e garçonete holadês, eles servem um chopp como ninguém (seguindo toda a cartilha): um primeiro serviço, esperando a espuma baixar, para encher o copo até o final, seguido da reguinha molhada sobre a espuma e da lavagem do copo por fora (mergulhando em água gelada) para limpar a cerveja que vazou dos serviços. Como uma curiosidade, descobri nessa viagem, que a reguinha molhada não é só um detalhe estético, essa fina camada de água serve para conter a espuma e consequentemente a carbonatação da cerveja. O mais divertido que eu achei desse bar foi ver a garçonete provando quase todas as cervejas que servia aos clientes e ficando visivelmente ébria ao longo da noite, mas sem que sua habilidade e capacidade de atender vários fregueses ao mesmo tempo fosse comprometida. Esse paraíso fica na Herengracht, 90, próximo ao museu da Anne Frank.


Eu tomando uma deliciosa Bock da Snab e a Polly tomando a maravilhosa Witt da La Trappe.


A garçonete beberrona e uma americano "aficionado" que ficou enchendo o saco dela a tarde inteira.

Em seguida, vou falar do bar mais tradicional de brejas de Amsterdam, o Bierproeflokaal In De Wildeman, que significa algo como Homem das Cavernas, segundo tradução do Magaz, nosso amigo que mora na Holanda e nos acompanhou ao meu segundo boteco predileto da Holanda. Esse bar é outra conversa, situado no límite da zona da luz vermelha, já tem mais cara de pub, apesar do clima lá dentro ser de um buteco mesmo. Devia ter umas 15 opções de cervejas on tap do mundo inteiro e mais umas tantas de cervejas em garrafa. O cheiro de cerveja no ar é palpável, de ínumeros anos de distintas brejas sendo derramadas e não limpas devidamente em cada canto da casa. Aqui, o serviço é muito menos personalizado e requintado, mas as mesinhas de madeira e o barulho da conversa, tornam esse bar bem mais festivo que o primeiro. Provei algumas versões de Weihenstephaner que não tinha visto até pouco tempo atrás no Brasil e  minha primeira Flying Dog, que não decepcionou, como eu esperava! Um bar muito bacana, que fica na Kolksteeg 3, mas se for pra escolher o preferido, prefiro o descrito no começo do post.



Nós 3 no In de Wildemam!

Bem pessoal, por hoje foi só isso, espero que esse post seja útil para alguém! E, além de dicas também vai aí um bom conselho, que lhes dou de graça: não visitem a Heineken, uma visita cara, em um lugar longe, e totalmente sem graça, você paga para passear por uma grande propaganda da Heineken. Não é uma visita à fábrica, como eu e imagino que muitos enganados acharam. Abraços e até a próxima!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Mais um pouco de água de cerveja

Como tem muito tempo que escrevi o último post, tive que buscar aqui em livros e internet para tentar lembrar o que mais foi falado na palestra sobre água e cerveja. Achei mais 2 coisas interessantes que eu não sabia antes da fatídica palestra (para eu não ficar me repetindo aqui, leiam o post anterior, para saber da palestra dos cervejeiros da Grimor, agora Inconfidentes, sobre história da cerveja da Expobier) que vou compartilhar com vocês.

Primeiro vamos falar da água de Dublin, se ainda não associou imediatamente a umas das marcas mais famosas de cerveja do mundo, saiba que a Guinness é a tal cerveja dessa cidade irlandesa. Água dura, em linhas bem básicas, é rica em íons alcalinos, o que vai, então, alcalinizar a água (enquanto lia e pesquisava, descobri que, como sempre, as coisas não tão simples assim, mas não vou entrar nesses detalhes). Essa alcalinidade é importante em vários pontos para a produção de uma cerveja escura, o primeiro ponto é que os maltes escuros são ácidos e não é desejável uma acidificação tão intensa durante o processo de produção de cerveja, por isso a alcalinidade da água combina com a acidez que o malte torrado possui. Parece que o pH de brassagem não pode abaixar além de 5.2, e o uso de tais maltes em uma água mole (em linhas básicas, o oposto da água dura) prejudicaria a produção da cerveja. Além disso, os íons alcalinos contribuem para que a cerveja fiquei mais escura ainda (potencializa a extração de polifenóis) além da melhor solubização do amargor do lúpulo (que combina bem com o café, geralmente atribuido ao uso dos maltes torrados).
 
Falando de Guiness, o boom de cervejas especiais na pressão (ou chopp, como conhecemos) têm tornado possível a degustação de cervejas escuras tiradas no nitrogênio, como manda o figurino. Recomendo experimentar a famosa Guiness "on tap" tirada no nitrogênio para vocês constatarem mais um porque da fama dessa cerveja: potente (a seu modo, com suas notas de café e moderado amargor) e suave (a cremosidade é ressaltada pelo nitrogênio, presente também na lata tentando simular a belezura que é o nitrogênio na pressão).


Então partimos para mais uma curiosidade interessante, a gipsita (um mineral que contem sulfato), presente na água de Burton na Inglaterra, famosa por suas Pale Ales, é fundamental para a sua fama e caracterização. O sulfato, ressaltado no último parênteses, confere um aroma característico de enxofre (algo semelhante a cheiro de ovo, muito comum em cervejas e normalmente associado a defeito e não qualidade), MAS, a grande importância do sulfato aqui é a de ressaltar o amargor do lúpulo, dando uma característica amarga e seca às tão famosas cervejas inglesas. A utilização de gipsita se tornou tão característica para a produção das famosas Pale Ales "a la" Burton, que o termo burtonização foi criado para descrever tal ação.

O Pale Ale é um estilo universal, presente em quase toda cervejaria emergente brasileira, mas que não representam, muitas vezes, esse amargor característico do estilo que mencionei acima. Para tal, as cervejas da Hook Norton, presentes nas lojas especializadas e em alguns supermercados, acho que se aproximam mais da ideia de Pale Ales secas e amargas.

Bem, já escrevi demais e provavelmente devo ter falado muita coisa pela metade (ou errada, tomara que não). Vamos ver se consigo dar intervalos menores entre os posts. 

Espero que tenham gostado! Até a próxima! No próximo post devem ser anunciadas umas novidades interessantes deste blog!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A volta do A Boa Breja!


Depois de muito tempo sem postar, acreditei até que ia parar com isso, mas uma série de eventos me fez voltar a ter vontade de escrever sobre cerveja. Sim, escrever, a ideia do vídeo acabou sendo um grande tiro no pé, cheguei a desenvolver e testar alguns vídeos, mas não é o meu formato predileto. O primeiro fator que me fez voltar a escrever foi a brilhante palestra da famosa dupla cervejeira de BH, Paulo Patrus e Lela Montandon (alquimistas das deliciosas cervejas Grimor), que ocorreu no BH Expobier no final de semana que se passou. O segundo fator foi o vislumbre de que é possível escrever um blog sobre cervejas, saindo do clichê, do padrão, sem ser entediante ou desinteressante, que é o caso do meu blog predileto sobre cervejas do grande Marcussi, o http://ocrueomaltado.blogspot.com.br/. 

Vou tentar ser um pouco mais breve em cada post, para tentar tornar a leitura mais dinâmica e menos entediante. O conteúdo dessa série de posts que pretendo elaborar até o final do ano são de leituras especializadas e de palestras e eventos que assisti e pretendo assistir. O conteúdo desse post em questão é fundamentalmente da palestra de sábado, que achei muito interessante e resolvi compartilhar com todos aqui.

A importância da água na produção de cervejas, mas com um foco histórico, na definição dos estilos.

O sucesso e a tradição em certos locais de manterem um estilo cervejeiro, está historicamente associado ao tipo de água disponível para determinado local. O que eu lembro e pude pegar claramente da palestra foram 3 exemplos clássicos e que me chamaram muita atenção:

1 - o sucesso da Pilsen Checa foi devido ao baixo de teor de sais de suas águas cristalinas, que por apresentar baixo teor Sulfatos, pôde permitir a inclusão de quantidades elevadas do lúpulo de assinatura do esitlo, o herbáceo e picante Saaz. Isso, somado à baixa fermentação também característica ao estilo Lager, que caracteriza cervejas mais leves e com perfis aromáticos menos intensos, tornou a cerveja refrescante e ao mesmo tempo cheia de personalidade. O seu perfil aromático de lúpulo comanda o espetáculo sem ser uma cerveja fundalmente amarga, como uma IPA ou as Bitter e sua variações inglesas, com belíssimas notas de panificação (do malte) harmonizando com todo esse lúpulo.

* algumas explicações que podem ser interessantes: os Sulfatos são responsáveis pela nossa percepção do amargor no retrogosto, e o amargor de uma cerveja é oriundo, atualmente, majoritariamente pelos alfa-ácidos do lúpulo. Ao contrário das cervejas Ale, que apresentam uma fermentação alta, as cervejas Lager, dentro das quais se encontram as Pilsen, apresentam fermentação baixa (a baixas temperaturas e que se acumulam na parte baixa do tanque de fermentação).

Os outros 2 exemplos eu vou deixar para um próximo post, seguindo a linha do Alexandre, do blog que citei, que sempre deixa no ar as cenas do próximo capítulo (próximo post no caso, hehehe), como um bom romancista!

Espero que se divirtam comigo nessa minha nova jornada!

Ah, quando um post for temático como esse, vou sempre sugerir rótulos para vocês provarem o que digo não só com os seus olhos:

Pilsner Urquell - a mãe desse estilo, representa com precisão o estilo Bohemian Pilsen (a Pilsen original).

Existem várias outras, mas essa pra mim é a campeã.

Temos excelentes representantes brasileiras desse estilo, como a Wals Pilsen (não é o chopp Wals, não é a X-Wals, é a Wals Pilsen) e a Bamberg Camila Camila, que não nos fazem passar nenhuma vergonha!


A harmonização desse estilo é amplíssima, pela própria harmonia da cerveja. Mas, devido à sua elevada carbonatação, presença de lúpulo e um quê de doce da panificação, encaixa muito bem com pratos picantes, que quase sempre tem algo de adocicado também, das culinárias asiáticas e da América Central. A limpeza que o lúpulo e a alta carbonatação conferem ao palato, tornam a experiência dos pratos e das cervejas intensas, pois a cada mordida ou golada, todos os sabores vêm com tudo!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mais um ano que se passa

Como é costume no meu blog, a cada fim de ano eu resolvo dar uma repaginada no visual e na proposta do blog. A proposta não deve mudar muito o foco em curiosidades e informações a respeito do mundo das cervejas será mantido. Porém, a partir de 2012, os temas serão apresentados no formato de vídeo, assim como é feito pelo colega Daniel Wolff no seu site: www.mestre-cervejeiro.com. Recomendo muito a visita ao site dele e espero que as novas apresentações e ideias do ano que virá atraiam mais seguidores, colegas, amigos, além dos poucos que consegui cativar com esse blog ao longo deste ano de 2011. Se eu conseguir fazer pelo menos uma pessoa se apaixonar pelas cervejas como eu me apaixonei, já terá valido a pena!

Que venham as festas e um novo ano cheio de novas empreitadas!


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Degustação de Cervejas Argentinas

Estive em Buenos Aires na semana passada (de 18-11 a 25-11) e como bom amante das cervejas, apesar das inúmeras recomendações de que a força porteña está em outra fermentação (a da uva em vinho), resolvi conhecer mais de perto a cena cervejeira em Buenos Aires.

Encontrei pouco material de referência, exceto o site do brejas (eterna referência) e o paraquevocerveja.blogspot.com, do Rodrigo Campos, que me deu dicas de alguns outros lugares interessantes para visitar.

Começamos pelo Buller (www.bullerpub.com), uma microcervejaria situada no bairro da Recoleta com fililal no centro, que foi onde conhecemos a casa. Pedimos o menu degustação com as 6 cervejas da casa "tiradas" (o mesmo que chopp pra nós). Dos 6 estilos bebidos (Pilsen, Weiss, Honey Beer, Oktoberfest, IPA e Stout), somente a Pislen e a Oktoberfest se destacaram, apresentando harmonia e características sensorias diferenciadas. A Pilsen, com um dulçor maltado e leve aroma de mel, remeteu a representantes brasileiras como a Backer Pilsen. A Oktoberfest chamou atenção por ser uma versão balanceada e com leve presença de malte da IPA oferecida, então, apesar de ser boa, não obedecia muito à proposta de ser uma Oktoberfest. As outras cervejas apresentaram defeitos desagradáveis que comprometeram a degustação, além de me darem o primeiro sinal amarelo para um fato que viria a se repetir nas próximas degustações: descuido na fabricação (ou limitação tecnológica) e pouca variedade de ingredientes na Argentina. Comemos um tira-gosto leve e repetimos (Eu, Polly e Pia) as nossas preferidas. A conta saiu cerca de 50 reais por pessoa.

Seguimos nessa mesma noite para o Kilkenny (www.thekilkenny.com.ar), um típico Pub do rock, com iluminação baixa, uma excelente banda ao vivo, um grande bar central e várias mesas com assentos almofodados. Lá eu provei a Grolsch (garrafa), uma Premium American Lager boa, remetendo a uma Bohemian Pilsner - devido à utilização de mais de um lúpulo na sua formulação e ao amargor um pouco mais presente que o normal - mas cara para o que oferece, sendo comparável a outras boas Lagers que possuem preço mais acessível e maior personalidade. Pia (chefe argentina da Polly, por isso nos encontramos lá!) foi de Negra Modelo, uma Vienna Lager que tem o dulçor característico do malte, puxando bem prum caramelo, tornando a sua degustação ótima! A escuridão da cerveja no copo nos levou a crer que era uma Dunkel, assim como as leves notas puxando para o torrado no conjunto, mas Vienna Lager cabe muito bem no estilo também, tendo um pouco mais de personalidade que uma típica Vienna. Polly foi de Warsteiner tirada, uma Pils alemã que na Argentina tem preços acessíveis e torna uma excelente alternativa à comuníssima Quilmes e à um pouco menos comum Stella Artois. Cada cerveja saiu a cerca de 15 reais por pessoa e foi só isso que bebemos ali.





No dia seguinte, fomos para a Cervelar (www.cervelar.com.ar), uma típica loja de cervejas artesanais, com longas estantes de madeira repletas de cerveja, decoração temática e algumas mesinhas para sentar e beber lá dentro alguns dos poucos chopps disponíveis e/ou a grande maioria dos rótulos à venda. A atendente, que parecia ser a proprietária, nos tratou muito bem (ficamos no bar conversando com ela) e parecia que não conhecia muita coisa de cerveja fora do seu país. Começamos (eu e Polly) pela Barba Roja Lager, com interessantes notas de mel e um corpo bacana devido à menor quantidade de filtrações que sofre no processo de sua fabricação. Apesar da característica mais doce e puxada pro malte, tem o retrogosto do lúpulo presente e discreto, tornando-a uma típica e boa Lager. Fui de Sixtofer IPA - já que falei e falei de novo do meu amor pelas IPAs e a atendente me garantiu que essa era uma das melhores dali - e realmente provei uma boa IPA, bem floral, bem harmônica e de um vermelho intenso bem bonito. Polly foi de Deleuzer Trippel, com bastante sabor de tutti-frutti e uma presença mais discreta de damasco. Cor acobreada e espuma persistente de pequenas bolhinhas, mostrando uma fermentação complexa. Bebemos tiradas da Kraken (IPA) e da Mula (Lager), que apresentou alguns defeitos como DMS e H2S e não apresentou o corpo, a espuma e a personalidade das em garrafa que degustamos. Mas, como estávamos emplogados com a boa descoberta do dia, resolvemos levar algumas para beber no quarto do hotel e descobrimos, mais tarde, que devíamos ter ficado com a boa impressão do bar...


Num outro dia a noite, fomos beber as cervejas que adquirimos no Cervelar, após um dia de caminhadas, e veio aí uma grande decepção. Tomamos alguns rótulos e a conclusão foi a que o fermento utilizado na Argentina não é dos melhores ou não é bem utilizado, porque a maioria dos rótulos nos forneceu um forte aroma de pão ou era mais voltado para o tutti-frutti (o mesmo da Trippel, que apareceu em 2 Dubbels de marcas diferentes, dando a entender que as Dubbels ali são versões mais brandas das Trippels, pois era exatamente isso que elas eram). Outra característica muito presente foi o forte gosto de cinzas em cervejas escuras que não eram Rauchbier, mostrando uma qualidade menor do malte ou uma limitação tecnológica na hora de torrar os maltes, deixando todas com o mesmo gosto final e persistente de cinzeiro, para nossa infelicidade. A única que salvou foi a Barba Roja Bock, que obedeceu fielmente ao estilo, apresentando notas suaves de torra (sem cinzas) e potente álcool e gosto de malte, uma delícia que vale a pena repetir.

Apesar de tudo, voltei com a boa sensação (rival da Argentina que somos, hehehe) de que nosso cenário cervejeiro está algumas décadas à frente do dos hermanos, para nossa alegria - pois ele está ainda engatinhando! Orgulho de ser brasileiro!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

On-flavours IV

Depois de um tempo ausente, volto para complementar a série de on-flavours com alguns flavours que achei que são importantes e não enquadravam em nenhuma das sub-categorias dos outros posts. Vou aproveitar este post também para dar algumas boas dicas da TV e internet sobre cervejas!

O primeiro flavour que vou mencionar é o spicy (condimento, especiaria) que não sei como não tinha colocado ele até agora. Muitas das belgas tem esse flavour, seja por adição de alguma especiaria de fato, ou durante a maturação da cerveja. O elemento associado a esse flavour é o Eugenol (ou 2-metoxi-4-(2-propenil)fenol). Esse segundo a gente não precisa nem tentar memorizar... Esse flavour puxa menos para o cravo e mais para as pimentas. Tentei achar mais explicações da origem e da formação desse flavour e não obtive sucesso, só consegui descobrir que o elemento químico associado a ele é muitas vezes associado a óleos e essências de cravo e tem nomes menos complexos que o apresentado aqui como 4-metil-2-metoxifenol. Esse flavour é off em cervejas lagers ou pale ale, indicando uma contaminação, já que a maturação dessas não é usualmente prolongada.


Outro flavour não mencionado foi o de amêndoas, oriundo do Benzaldeído. É usualmente um off-flavour, sendo desejável em cervejas frutadas, como ocorre na Floris Fraise mencionada aqui no blog, uma cerveja aromatizada com morango. Também é um flavour associado com o "envelhecimento", mas nesse caso é com a estocagem e não com a maturação.


Esse último flavour é o mais inusitado de hoje: o caprílico, associado ao ácido octanóico e causado pela levedura durante a maturação e não a fementação. Off-flavour em altas concentrações e on-flavour em concentrações moderadas, já que vai trazer uma semelhança com queijos maturados (principalmente os de: leite de cabra), aumentando a complexidade da cerveja.


Com esse post, além de finalizar minha série de posts sobre flavours, concluí que certamente alguns dos flavours que dou por certo, com por exemplo: cravo é 4-vinil-guaiacol da fermentação, não é necessariamente só daí que ele veio, podendo ter sido oriundo de alguma ação na maturação, e estar assim também associado ao Eugenol.

Agora vamos para a segunda parte do post. A primeira dica que vou dar aqui é a visita ao site do Daniel Wollf (www.mestre-cervejeiro.com), que além de ter trazido a cultura vlogueira ao mundo cervejeiro (a parte de vídeos do site é muito interessante, penso até em fazer uma versão do LeoVivi a partir do ano que vem, com estilos que ele ainda não abrangeu, é claro!), é um grande conhecedor de cervejas e atencioso para com os frequentadores (respondendo pacientemente a TODAS as perguntas feitas), o que para mim, fez e continua fazendo diferença demais! A segunda dica é que no canal TLC (94 na Net em Belo Horizonte) está passando, nas segundas-feiras (às 23h), o programa Mestres Cervejeiros (Brew Masters no original), que trata das experiências cervejeiras de Sam Calagione (da Dogfish Head, uma grande e ousada artesanal dos EUA). Além das malices e ego do apresentador (dando um toque de documentário e reality show ao programa), vale muito a pena assistir, tanto pela parte de história, quanto pela de tecnologia de fabricação de cerveja, que são muito bem apresentadas. Minha última dica fica pela visita ao site do World Beer Awards (http://www.worldbeerawards.com/), onde pode ser baixado o livro com as campeãs de 2011 na competição, tendo até algumas representantes brasileiras da Eisenbahn. A grande campeã foi (pela segunda vez) a Weinhenstephan Vitus (a única Weizenbock clara do mundo), e o prêmio, na minha opinião, é bem digno.

Abraços e até uma próxima, que deve voltar a falar de experiências de degustação! Porque já estou ficando louco de tanto tempo sem beber cerveja boa!

domingo, 23 de outubro de 2011

On-flavours III

Hoje eu vou falar da relação dos flavours desejáveis com o malte, um dos ingredientes mais marcantes das cervejas, e com suas diversas manipulações tecnológicas - que agregam distintos sabores e aromas às nossas tão amadas.

- "Grão ou Grainy" dos chopps Falke Bier, como o Red Baron - o isobutiraldeído dá essa características às cervejas e pode estar associado ao modo como a fervura do mosto é conduzida ou a uma utilização do malte precocemente, sem estocar pelo tempo necessário. É um on flavour, apesar das suas origens serem mais voltadas a possíveis falhas tecnológicas, mas esse processo normalmente é controlado propositalmente para agregar sabor à bebida, como é o caso das Falke. 


- "Malte" das Bock - esse, se você lê meu blog, sabe que é um dos meus flavours prediletos. Seus flavours são oriundos principalmente de compostos O e N-heterocíclicos - esse é complicado de decorar. Essa característica é muito desejável nas cervejas que são propositalmente mais maltadas, como é o caso das cervejas Bock, onde o sabor e aroma diferenciado dessas cervejas vêm principalmente de quantidades maiores de malte usadas. O malte, para quem não sabe, é o grão utilizado para fabricação da cerveja - cevada, sendo o principal, o trigo sendo também muito comum, assim como aveia e outros menos comuns - após criteriosos processos tecnológicos de germinação e torra. As nossas conhecidíssimas Lagers, em sua grande maioria utilizam também cereais não maltados (como o arroz e o milho) para conferirem leveza à cerveja e reduzirem os custos de produção, tornando a breja acessível a todos. 


* Aqui abro um parênteses para falar do flavour de mosto, que é uma característica um pouco menos nobre e mais comum a todas às cervejas. O mosto é basicamente os ingredientes sólidos que são misturados vigorosamente e tratados termicamente para possibilitar a produção da cerveja, que é posteriormente filtrada (ou não) e fermentada e maturada até atingir o ponto exato de envase, virando essa preciosidade que tanto adoramos. 

- "Caramelo" das Dunkelweizen - esse flavour - etil metanol - é associado à adição de açucar caramelizado (ou Farbebier). O flavour pode aparecer já no mosto ou ser reforçado por reações de Maillard (caramelização não enzimática) na pasteurização (quase toda cerveja que não é chopp é pasteurizada antes de ser comercializada, a fim de garantir sua validade prolongada) ou ao longo da estocagem da cerveja.


- "Queimado" das Stouts - esse flavour, também derivado de compostos O e N-heterocíclicos, está associado ao quanto o malte utilizado na cerveja foi torrado. Os deliciososo flavours aqui vão de um espectro normalmente de chocolate amargo a café, variando enormemente entre uma cerveja e outra de acordo com o malte utilizado e a metodologia da torra deste. Eu normalmente me encanto quando essa torra puxa mais para o chocolate amargo, ainda mais em algumas cervejas onde o chocolate amargo é adicionado para reforçar tal flavour. Nesse frio chuvoso de BH, ninguém precisa de mais nada na vida além de uma boa companhia para beber essa delícia.



- "Defumado" das Rauchbier - o flavour de guaiacol aqui é oriundo da defumação do malte. Na brassagem ou na fervura do mosto, esses aromas incorporados ao malte vão ser liberados e dar o gosto e cheiro único de comida defumada - como bacon ou linguiça - às cervejas defumadas, ou Rauchbier, que pede uma harmonização como nenhuma outra cerveja.


- "Dulçor" de inúmeras cervejas - A doçura da sacarose vem da fermentação pelas leveduras dos açucares do malte e dos adjuntos adicionados às cervejas. Em algumas brejas, faz toda a diferença no flavour final, em outras, é mais um flavour coadjuvante contribuindo para o conjunto.


- "Baunilha" - Esse flavour está muito misturado, para mim, à flavours como o butirato de etila da fermentação ou ao próprio dulçor do malte, sendo muitas vezes difícil de separá-lo categoricamente. Muitas vezes também tem uma associação ao biscoito, muito mencionados em várias degustações e análises sensoriais, mas o próprio biscoito eu acredito que não é um flavour isolado de baunilha. Enfim, é isso que torna aas cervejas tão complexas e que nos motiva a provar cada vez mais essas beldades! Esse flavour vem da quebra de compostos da parede celular dos grãos utilizados no fabrico da cerveja - como a cevada. Pode vir também da fermentação por leveduras selvagens de compostos fenólicos produzidos pelas leveduras adicionadas à cerveja. Eita flavourzinho complexo!


Acho que esse post foi o menos técnico e menos preciso, mas quando chega na questão malte, eu realmente acho complexo diferenciar este ou aquele sabor menos evidente e mais harmonizado no conjunto. Espero que não tenha sido simples ou confuso demais as minhas explicações!